quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Solidariedade e Meio Ambiente

“Não há um Planeta B”


Estamos colhendo hoje o que plantamos na nossa história humana na face da terra. Sobretudo a partir da revolução dos últimos quatro séculos. A humanidade, movida pela racionalidade da técnica e da ciência, construiu o mundo que habitamos, trazendo para nós todos os confortos que ela nos pode oferecer. Vivemos bem, muitíssimo bem! Entretanto, o mundo do progresso ilimitado, do absoluto da técnica e da ciência, hoje tem dificuldades de sustentar seu próprio discurso e prática.

O mito da solução dos problemas criados pela técnica e pela ciência através da própria técnica e ciência, hoje não tem sustentação. Nós esbarramos nos limites da nossa morada, do nosso planeta, que tem sua própria lógica, da qual nós somos parte e não senhores. Nossas reflexões e atitudes em relação à Ecologia, são periféricas, não atingem a questão central dos problemas ambientais e sociais. Mas, quando o olhar se volta para o coração do problema, então temos um horizonte de pavor.

O mundo muda e observar suas mudanças às vezes é simples, às vezes é extremamente complexo. Há bem pouco tempo não ouvíamos falar em Aquecimento Global, na questão Ecológica, na Biodiversidade, na crise Civilizatória. Nossos grandes problemas e desafios eram apenas de ordem social, mas o progresso era inquestionável. A qualquer custo tínhamos que progredir. Não se trata aqui de procurar o que há de pior no mundo, mas de refletir e reconhecer que pessoas e a natureza, hoje, já sofrem as conseqüências do modelo de desenvolvimento e do tão sonhado progresso escolhido por aqueles que dirigem a humanidade.

Citamos apenas as questões – chave para visualizarmos melhor o mundo atual em que vivemos:

1. A QUESTÃO DA ÁGUA – Hoje, cerca de 1,2 bilhão de pessoas no mundo não tem um copo de água potável para beber. Aproximadamente 4 mil crianças morrem por dia por doenças veiculadas pela água;

2. A QUESTÃO DA TERRA – Os solos ocupados hoje por agricultura estão em cerca de 1,5 bilhão de hectares. Continentes inteiros como África, Ásia e Europa não tem mais solos a serem ocupados, a não ser ocupando áreas de riscos. A América Latina ainda teria solos a serem ocupados pela agricultura, mas isso significa devastar mais ainda os cerrados, a Amazônia e a caatinga. Portanto, essa realidade significa que a humanidade terá que buscar alternativas para conviver com os solos que têm hoje para saciar aproximadamente os nove bilhões de pessoas que deverão estar na face da terra em 2050.

3. A PERDA DA BIODIVERSIDADE – Só os vegetais são capazes de produzir seu próprio alimento através da fotossíntese. Nós, humanos, somos capazes de manejar nossos alimentos, mas não de produzir a matéria prima que necessitamos para se alimentar. À medida que as florestas vão sendo devastadas, há um empobrecimento vegetal, animal e diminuição de disponibilidade das águas. Por conseqüência ocorre o empobrecimento da variedade, das cores, dos sabores, da nutrição, ou seja, toda cadeia que sustenta a vida.

4. AQUECIMENTO GLOBAL – A emissão constante de gases na atmosfera, originados principalmente pela queima de combustíveis fósseis, modificou o invólucro da terra chamado atmosfera. Hoje, a Terra está doente e necessitando de cuidados.

5. MODELO DE DESENVOLVIMENTO – A humanidade fez uma opção de desenvolvimento que agride a vida e exalta a dimensão econômica, que se sobrepões às outras dimensões da vida humana e as condiciona. Um modelo baseado na depredação, exploração e acumulação.

Diante da crise ecológica, fruto da crise civilizatória, qual é o nosso papel? Quais os grandes desafios? Temos que mudar de atitudes e romper com o modelo de desenvolvimento que acumula riquezas, explora as pessoas e depreda a natureza. O mundo do capital consumista soube legalizar seus pressupostos. Então, para muitos, basta executar as regras do mercado, obedecer à sua ética, legalizada, para obter tudo que buscam. O MUNDO ESPECULATIVO É UMA FORMA DE OBTER FORTUNAS SEM ONERAR A CONSCIÊNCIA.

A depredação da natureza, através das madeireiras, carvoarias, biopirataria, agronegócio etc, é outra forma de agredir o espírito da vida. Tem muita gente que se pretende ético e justo usufruindo o mundo da especulação, da exploração, da depredação da natureza e da acumulação. Essas posturas carregam em si bases éticas e morais profundamente questionáveis diante das exigências de uma nova maneira de se relacionar com o meio em que vivemos. Pois, a crise ambiental provocada pelo “progresso humano” coloca para a humanidade contemporânea o desafio de se vivenciar uma nova ESPIRITUALIDADE DA VIDA. Essa nova Espiritualidade, que denominamos SOLIDARIEDADE ECOLÓGICA, implica em profundas mudanças de atitudes, pessoais e coletivas, sobretudo, na maneira de cuidar e de se relacionar com as pessoas, a natureza e o mercado.

Por isso, a salvação da humanidade e do planeta Terra, passa por uma outra lógica, a prática da SOLIDARIEDADE ECOLÓGICA”. Baseada na solidariedade humana, tem sensibilidade com a justiça e respeito pela criação, sabe que essa sensibilidade é também um dom do espírito que paira sobre todas as vidas e pessoas e sopra onde quer. Na ação solidária com a Terra, reside a possibilidade de prosperidade da humanidade.

Carlos Humberto Campos - Sociólogo e Assessor da Cáritas Brasileira Regional Piauí

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