terça-feira, 31 de agosto de 2010

Semiárido concentra população analfabeta

Renato Bezerra - repórter de Política

Além do problema de convivência com a seca, o semiárido é a região com maior dificuldade na formação educacional das crianças e jovens. Concentra metade da população de analfabetos acima dos 15 anos e apresenta altos percentuais de evasão escolar, de acordo com o relatório “Situação da Infância e da Adolescência Brasileira 2009 – O Direito de Aprender”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Muitas escolas acabam contribuindo para a construção da imagem do semiárido como um lugar de atraso e de falta de oportunidades para os próprios alunos que residem na zona rural. O currículo escolar não leva em conta a realidade local. “Muitas escolas formais ainda demonstram a idéia de que o semiárido nordestino é lugar seco, pobre e de atraso. E que para obter sucesso, as pessoas tem que sair da região. Isso destrói a auto estima e estimula a migração forçada e tudo o que a ela é atrelada, em vez de estimular o desenvolvimento local sustentável”, Afirma Carlos Humberto Campos.

Durante a apresentação do relatório no evento “Água, Liberdade, Cidadania e Segurança Alimentar”, Carlos Humberto afirmou que no Piauí já existem projetos voltados para a educação, como é o caso do Projeto Fecundação da Cáritas Brasileira Regional do Piauí, que através do projeto-piloto em Coronel José Dias, foi elaborado o primeiro Plano Municipal de Educação – PME com base na Educação Contextualizada para Convivência com o Semiárido. Prática já adotada pelas Escolas Famílias Agrícolas através da pedagogia da alternância: 15 dias do mês o aluno fica na escola aprendendo e os outros 15 dias ele vai para casa pôr em prática o que aprendeu.

De acordo com o Coordenador Executivo do Fórum, embora existam essas potencialidades a região não consegue superar seus péssimos indicadores sociais e nem auto-financiar seu desenvolvimento econômico. E a falta adequada de conhecimento do semiárido piauiense levou à introdução de atividades que não apresentam sustentabilidade ambiental e nem se tornam vantagens competitivas dinâmicas para famílias agricultoras.

Carlos Humberto disse ainda que a população piauiense ainda é considerada uma das mais empobrecidas da federação, com baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano – IDH. A falta de trabalho e emprego, poucas fontes de renda, dificuldades de acesso a alimentos em quantidade suficiente, as aguadas secam ou ficam impróprias para o consumo humano ou produção; tudo isso estimula o êxodo rural que leva ao inchaço das periferias das grandes cidades, à migração forçada e ao trabalho escravo.

Além de todos os problemas sociais enfrentados pela população do semiárido piauiense, as mudanças climáticas que estão ocorrendo no planeta tem contribuído para o agravamento da situação.

Continuação da reportagem publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí no dia 15/10/2010

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