quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Famílias de Palmeirais fecham a PI-130 em protesto


Manifestação PI-130, upload feito originalmente por Cáritas Piauí.

Um grupo de aproximadamente 100 pessoas fechou a PI-130, que liga Teresina a Palmeirais, por cerca de duas horas na manhã desta quarta-feira (01) próximo à comunidade Buritizinho, na zona rural de Palmeirais. As famílias protestavam contra o avanço da compra das terras na região pela Suzano Celulose para o cultivo do eucalipto e contra a construção das usinas hidrelétricas no Rio Parnaíba.

Claudiomir Vieira, coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), declara que a empresa já comprou milhares de hectares no Estado do Piauí e do Maranhão para o plantio da árvore para a produção de celulose a fins de exportação. “Ela conta também com a isenção de impostos do Estado e dos municípios, além da promessa de construção de cinco usinas hidrelétricas no curso do Rio Parnaíba, a fins de gerar energia para manter o maquinário da indústria funcionando”, afirma o coordenador do MST.

O MST afirma ainda que essa desapropriação legalizada de propriedades rurais férteis que eram destinadas à agricultura familiar só vai incrementar o numero de 250 mil famílias piauienses que batalham por um pedaço de chão. Quadro que pode ser revertido através de uma lei que propicie a limitação da propriedade rural.

“Segundo o Incra são 153 milhões de hectares de terra que estão nas mãos dos latifundiários, enquanto 5 milhões de famílias no Brasil lutam pela posse da terra. A maioria dessas terras está a serviço do capital estrangeiro e é destinada a produção de bens para a exportação. Pouco tem sobrado para a produção voltada para o mercado interno, para a produção de alimentos mais saudáveis”, completa.

Segundo o agricultor João Rodrigues de Oliveira, morador da comunidade Nova Esperança, a Suzano tem oferecido grandes somas de dinheiro pelas terras dos agricultores para forçar as famílias a venderem suas terras para o plantio do eucalipto e oferecendo empregos às famílias que, segundo ele, não existem.

“A Suzano está é enganando o povo. Num terreno que vale 10 mil reais eles oferecem 40 , 50 mil para a pessoa vender e vai retirando o povo das terras. Esse povo vai saindo e mais tarde vai dá trabalho é ao governo, porque não tem onde ficar. Os empregos que eles tão falando que tem é pra quem tem estudo e os mais velhos que não tem estudo vão viver de quê? E quando os mais novos se formarem pra trabalhar para eles, já acabaram com tudo”, declara o trabalhador.

Apesar do pouco conhecimento que tem o agricultor, ele tem consciência dos problemas sociais que a expulsão do homem do campo pode gerar. “Se a gente sai daqui a gente fica com a cara pra cima, porque pra onde nós vamos? De quê vamos viver? Vamos gerar uma fábrica de ladrão porque se nós não pudermos educar nossos filhos eles vão acabar roubando. Nós temos que demonstrar o nosso ‘não’ para ver se as autoridades vejam isso e dê um basta nisso”, declara

De acordo com João Rodrigues, os moradores da comunidade Boa Esperança já estão com medo de serem despejados, pois a área que eles residem há 11 anos pertence à prefeitura de Palmeirais. O agricultor fala que já apareceu uma equipe fotografando o local, o que deixou as famílias mais inquietas. “A gente vai dar um jeito de conversar com a prefeitura para ver se eles passam o pedaço de terra que a gente mora para a associação. Essa vida no interior é boa demais pela tranqüilidade e um cultivo de um eucalipto desse acaba com as caças, acaba com tudo porque ele arranca os pau tudo e acaba com tudo. E o eucalipto não refloresta a terra”, finaliza.

Segundo Hortência Mendes, secretária regional da Cáritas Brasileira, a manifestação também faz parte da programação para a mobilização da sociedade em torno do Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra, que visa consultar a sociedade sobre a limitação de posse e aquisição das propriedades rurais.

“Queremos uma efetiva Reforma Agrária, uma agricultura familiar fortalecida, pessoas do campo e da cidade organizadas e conhecedoras do seu direito, pois só com cidadania que a gente consegue construir uma sociedade sustentável. Essa manifestação ela aponta pra isso quando questões coletivas a serem discutidas como: o limite da terra através do plebiscito popular, os grandes projetos que atentam contra o meio ambiente e contra a vida das pessoas e a luta pelos direitos e pela cidadania”, declara a secretária.

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