Logo quando se chega na comunidade Pau Ferro, no município de Caldeirão Grande do Piauí, imensos calçadões dão as boas vindas para as pessoas visitantes. Junto deles, reservatórios de 52 mil litros servem para armazenar a água captada durante o período chuvoso e que servirão para a produção de alimentos para as famílias.
Mais lá na frente, numa estradinha estreita e de difícil acesso para carros maiores, uma plantação de tomates e outras hortaliças chama atenção de quem passa. Antes da plantação um sangradouro e um cacimbão podem ser vistos, já denunciando que ali existe uma Barragem Subterrânea. A Barragem da família Ferreira.
No Sítio Anuês, nome dado a uma planta que servia de ração para os animais e que tinha muito no lugar, moram Brás Ferreira da Silva (mais conhecido como seu Ferreira) de 68 anos, dona Maria Raimunda de Carvalho de 70 anos e mais dois filhos. O casal tem mais outros três filhos que moram em Fronteiras, São Paulo e outro em Salitre no Ceará.
Casados há 48 anos eles nasceram e se criaram em Caldeirão Grande. Na propriedade da família as tarefas da roça são feitas pelos homens e as de casa pelas mulheres. As mulheres cuidam de alguns canteiros que garantem as hortaliças da alimentação. Os homens ficam de cuidar do feijão, do milho e da mandioca, além do trato com os animais e também da horta.
A água para beber e cozinhar é garantida pela cisterna de 16 mil litros que foi construída pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil). Apesar de ter um poço cacimbão, a família só utiliza a água da cisterna para beber e cozinhar já que a água do poço é muito salgada e só serve para saciar a sede das galinhas, porcos, ovelhas e do gado que a família cria.
Seu Ferreira conta que antes não conhecia a Barragem Subterrânea. Depois de todas as sondagens, a equipe da Cáritas Brasileira Regional do Piauí – Unidade Gestora Territorial do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da ASA – viu que a o local era adequado para a construção dessa barragem diferente.
Mesmo sem entender direito como ficaria a barragem, já que nunca tinha visto igual antes, só através de desenhos, seu Ferreira acreditou e topou o desafio. Depois de construída a barragem e feito o curso de capacitação em Gestão de Água para a Produção de Alimentos, o agricultor diz que a experiência trouxe mais conhecimento sobre como lidar com essa nova forma de produção. Um conhecimento que antes eles não tinham.
No primeiro ano já deu para perceber como a barragem funciona. Ele conta que uma vala é cavada até chegar na pedra e uma lona é colocada para impedir que a água vá embora. No local que o solo fica úmido ele plantou tomate, batata, coentro, cebolinha, pimentão, pimenta, cenoura. O plantio dele é bem variado, mas o forte mesmo é o tomate. Como ele próprio diz, já tem vocação para plantar tomate. São 15 anos trabalhando com o fruto, passando pelo Maranhão e chegando em Picos, onde trabalhou nos últimos cinco anos.
Ele ensina como plantar o tomate. Primeiro se faz as mudas com as sementes guardadas ou compradas, com um canteirinho. Quando botar a plantinha do tomate deve-se mudar as plantas do canteirinho para a área que ficará até dar frutos. É importante que se tenha molhado suficiente para segurar a plantação. E veneno ele diz que não precisa botar. Como a plantação dele é bem diversificada e não desmata a propriedade, os insetos são bem controlados e deixam a plantação em paz.
Esse ano a plantação foi para experimentar e garantir o suficiente para por na mesa de casa. Mas seu Ferreira quer mais! E sabe que experimentando dá certo. Ele planeja plantar dois mil pés de tomate no lugar no próximo inverno. Se a água não der para o sonho dele, não tem problema. Ele garante que aprendeu como faz a barragem e pretende fazer outra para aproveitar mais uma área da propriedade.
Junto com a Barragem Subterrânea a família recebeu sementes de hortaliças variadas que a família já aproveitou nos canteiros e mudas de árvores frutíferas. Abacate, laranja, manga, caju, beterraba a família destinou outra área para serem plantadas. Só a manga que não pode ser plantada mais próximo da barragem, porque como explica seu Ferreira a raiz dela é muito grande chegando a dar três metros e a terra é muito rasa, impossibilitando o desenvolvimento da planta.
E garante: “Esse trabalho da Cáritas e da ASA é muito importante, porque chega a água para a pessoa trabalhar. Chega a água para a pessoa beber, para nós que nunca tinha visto isso. Então, eu estou muito satisfeito!”
Mariana Gonçalves - Comunicadora Popular P1+2/ASA Brasil/ Cáritas
Sistematizado em agosto de 2009 para o Boletim "O Candeeiro"
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