sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O PODER PÚBLICO A SERVIÇO DE QUEM?

Carlos Humberto Campos*

Os acontecimentos dos últimos dias, início do ano de 2012, em Teresina, relacionados à questão do transporte coletivo, revelam uma gestão pública, um modelo de governo municipal que não é compatível com a realidade da sociedade teresinense. Demonstram um despreparo total dos órgãos públicos para resolver os graves problemas e as sérias dificuldades oriundas das camadas mais empobrecidas de Teresina. Ao conceder o aumento das passagens e implantar o atual modelo de INTEGRAÇÃO DOS ÔNIBUS, o poder executivo municipal, a prefeitura de Teresina, demonstrou, mais uma vez, descompromisso e desrespeito com a população que necessita do transporte coletivo para se locomover. Essa decisão da prefeitura se configura numa grande farsa, para mais uma vez beneficiar os empresários dos transportes coletivos, que historicamente tem dominado os poderes públicos, tanto o executivo quanto legislativo municipal. Vejam só, por que o cartão de acesso à INTEGRAÇÃO DOS ÔNIBUS é da CREDISHOP, uma empresa do grupo Claudino, do senador João Vicente Claudino do PTB, cujo prefeito de Teresina é do mesmo partido? E por que essa empresa ganhou esse serviço sem licitação pública?

Chamo atenção também para a conivência e omissão do poder legislativo municipal. Qual a participação efetiva dos vereadores no processo de melhoria da qualidade de vida da população de Teresina? Gasta-se fortunas dos recursos públicos com os 22 vereadores e a final de contas quais os resultados? Os vereadores são eleitos e pagos pela população para prestarem serviços em nome da coletividade. Para fiscalizarem o executivo; para elaborarem leis e projetos visando à melhoria de vida da população e da cidade e não usurparem o mandato para fazerem conchavos políticos e acordos de gabinetes na garantia de interesses pessoais e de grupos apaziguados. Prática política da maioria dos vereadores de Teresina e também da maioria dos deputados a nível estadual.

Temos ouvido e assistido constantemente nos meios de comunicação social, um discurso conservador dos “Aparelhos Ideológicos do Estado”, que devemos resguardar o “ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO"; que condenam a violência; que é necessário agir com dureza contra os manifestantes; que a manifestação tem que ser pacífica; que a polícia precisa garantir a ordem e a paz pública... QUE ORDEM? QUE PAZ? QUE DIREITO? Não se pode ter ordem e paz pública quando os direitos das pessoas são negados e desrespeitados pelas autoridades competentes. “Juram que não; Torturam ninguém; Agem assim; Pro seu próprio bem; Oh!...São tão legais; Foras da lei; Sabem de tudo; O que eu não sei; Não!...Nesse mundo assim; Vendo esse filme passar; Assistindo ao fim; Vendo o meu tempo passar; Hey!...”(Alvorada Voraz/música e letra/RPM).

O poder dominante, político e econômico, impuseram uma “paz” disfarçada, que segundo sua lógica basta a ausência da violência para que tenhamos paz. Mesmo que a sociedade seja dominada, explorada, excluída, sem saúde, sem educação, sem transporte, sem salário digno, sem moradia, sem direito de participar e exigir seus direitos. Mesmo que reine a injustiça, a arrogância, a prepotência dos ricos e daqueles que são eleitos, que se aliam a estes, para tramarem contra os direitos do povo. O Estado Democrático de Direito e a sociedade como um todo, não podem aceitar e ser indiferente, que estudantes, cidadãos e cidadãs sejam presos e levados para casa de custódia ou penitenciária, por lutarem por seus direitos. Isso é um atentado contra a liberdade de expressão, contra os direitos humanos e contra a Democracia.

As manifestações dos estudantes de Teresina, nos últimos dias, contra os abusos dos poderes públicos e privados, entram para a história do Piauí e do Brasil, como um gesto concreto de luta do povo pelos seus direitos, revelando um sentimento de que, mesmo sendo negados os direitos da sociedade civil, dos movimentos sociais, neutralizados, dominados e oprimidos nos últimos tempos, nunca abrirão mão dos seus direitos. O Piauí e nossa querida Teresina, não são terras sem vida, sem cidadania e sem direitos. Aqui, existem pessoas de direitos e exigem serem respeitadas com toda dignidade.

O povo teresinense não aceita mais o péssimo serviço dos transportes públicos, não aceita mais ser colocado à margem das decisões políticas, excluída das políticas públicas. Somos mulheres cidadãs, homens cidadãos, jovens cidadãos e somos responsáveis por nós mesmos e pelos nossos destinos e queremos de mãos dadas com todas as forças vivas da sociedade, construir uma Teresina ética, de direitos e humanitária. Somos gente grande e queremos ser tratados como gente grande. ABAIXO OS ACORDOS ENTRE OS GESTORES PÚBLICOS E OS EMPRESÁRIOS! VIVA A MANIFESTAÇÃO DOS ESTUDANTES!

(* Sociólogo, assessor da Cáritas Brasileira Regional Piauí)

Nenhum comentário:

Postar um comentário