“Pobreza, miséria, analfabetismo, doenças e baixa expectativa de vida. Essa é a realidade do Semiárido, propagada e consolidada no imaginário social. Não é resultado de calamidade originada no clima e na manifestação do fenômeno da seca, é uma construção humana, passível, portanto de ser revertida”. Foi com essas palavras que o coordenador executivo do Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido, Carlos Humberto Campos, iniciou o Encontro de Avaliação do Projeto Cisternas nas Escolas.
O encontro aconteceu nos dias 17 e 18 de fevereiro no Picos Hotel, em Picos (PI) e reuniu comissões municipais, secretários/as municipais de educação, zeladores, professores e equipes que executam o projeto. O evento teve o objetivo de avaliar os processos de mobilização da comunidade escolar em torno da construção das cisternas e como ela poderá servir como instrumento pedagógico para políticas de convivência com a região semiárida piauiense.
A tecnologia social, que acumula água da chuva para suprir as necessidades de consumo humano que já atendeu a mais de 300 mil famílias, foi estendida para escolas rurais de nove estados do Semiárido brasileiro. Nas unidades de ensino, os reservatórios tiveram sua capacidade ampliada para 52 mil litros. O projeto Cisternas nas Escolas, uma iniciativa da Articulação no Semi-árido Brasileiro (ASA Brasil), construiu 843 reservatórios em escolas da zona rural. Destas, 55 foram destinadas a municípios piauienses.
Os municípios contemplados com o projeto foram: Acauã, Capitão Gervásio Oliveira, Coronel José Dias, Inhuma, Ipiranga do Piauí, Jacobina do Piauí, Jurema, Oeiras, Pedro II, Picos, Piracuruca, Queimada Nova, São José do Divino, São Raimundo Nonato.
A água da cisterna escolar será utilizada para o consumo de crianças, professores e funcionários de escolas, pois no Semiárido, é comum muitas escolas pararem de funcionar por causa da falta de água. Na lógica do projeto, os professores e alunos são chamados a acompanhar o processo da implantação e a zelar pelo bom uso das cisternas e, além disso, a trabalhar a educação contextualizada a partir das cisternas. Deste modo, todas as disciplinas podem ser trabalhadas a partir do tema ‘Água e Cisternas’ e, assim, o debate sobre a convivência com o Semiárido entra na escola.
Segundo o Secretário Municipal de Educação de Acauã, José Edivaldo, o município tem sofrido bastante com a falta de água, que é escassa nos meses mais quentes do ano. “Muitas vezes temos que nos deslocar ao município de Afrânio (PE) para buscar água potável. Essas cisternas vieram para melhorar a vida das pessoas. Primeiro para as famílias, e agora para a comunidade escolar”. O professor salientou ainda a importância da parceria estabelecida entre a ASA e a prefeitura como uma motivação para os gestores pensarem mais no social.
Os participantes avaliaram o projeto como essencial para a garantia dos alunos em sala de aula o ano todo, mas sugeriram algumas mudanças. A proposta das pessoas que participaram do encontro é que o projeto também seja ampliado para a produção de alimentos, a fim de complementar a formação dos alunos em agroecologia e segurança alimentar. Uma forma de ampliar o debate sobre a Convivência com a região dentro da sala de aula.
O projeto é realizado pela ASA Brasil em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), a Agência de Cooperação Espanhola e o Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS) e apoio do Unicef.
Educação a partir do contexto local
Ao longo de vários anos foi construída a imagem de que o semiárido é lugar de morte. E um dos responsáveis por essa visão por muitos anos, foi a escola que acabou reforçando essa idéia. Entretanto, muitas escolas tem adotado a educação contextualizada para modificar essa realidade indo na contramão da história. “A partir da Educação Contextualizada a escola começou a se inserir na realidade onde atua e tem ajudado as crianças e seus pais a conhecer melhor suas realidades e, principalmente, a construir conhecimento para mudar a realidade de injustiça em que se vive”, salienta Carlos Humberto.
Para isso muitas iniciativas estão sendo construídas em diversos municípios do semiárido para a concretização desse modelo de educação. Segundo Zumira Netinha, professora da Unidade Escolar Boca da Serra em Jurema, uma realidade do município é a graduação e especialização dos professores. “Hoje podemos dizer que em Jurema professores e professoras da rede pública na sua maioria são graduados e especializados para lecionarem em Escolas Famílias Agrícolas (EFAs). E isso diminuiu a evasão escolar e a migração, pois muitos alunos tem desistido de ir para outros lugares tentar a vida e ficar na sua terra”. Para a professora, através das especializações os professores conseguem visualizar e repassar perspectivas de vida para os alunos dentro da realidade em que se vive.
Mariana Gonçalves - comunicadora popular FPCSA/ ASA Brasil/Cáritas
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