sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Solidariedade feminina

Mulheres do Tombador, em Itainópolis (PI), se destacam no manejo com os animais

Uma estrada estreitinha e uma barragem dão as boas vindas à comunidade Tombador, no município de Itainópolis no Piauí. Lá um grupo de mulheres batalhadoras tem mostrado que a força da mulher não está só na cozinha, cuidando do preparo do alimento da família, mas também na conquista desse alimento.

Maria Iraci da Costa, Adalveniza Ana da Costa e Leda Maura da Silva tem investido na criação de carneiros e ovelhas para alimentar a família. Já Maria Moreira da Costa, Josefa Joana do Espírito Santo, Expedita Joana do Espírito Santo, Maria Neta de Lima e Maria Sila da Costa tem criado galinhas caipiras.

A história desse grupo quem nos conta é Dona Iraci, coordenadora da Igreja Católica da comunidade, e numa das reuniões ela ficou sabendo da chegada do Projeto Fecundação da Cáritas Brasileira Regional do Piauí, com apoio da Manos Unidas. E gostou tanto da idéia que resolveu conversar com as outras pessoas para aceitar o projeto e trabalhar para que ele dê certo.

O projeto através de Fundos Produtivos Solidários levou o investimento para a criação de galinhas caipiras, ovelhas e carneiros para as famílias. Dona Iraci explica que, junto com o dinheiro pra comprar os animais, foram promovidos mutirões para montagem dos apriscos, cercados das galinhas e manejo adequado dos animais.

A escolha dos animais para a criação foi feita em acordo com as famílias. Segundo a agricultora, as mulheres assumiram a atividade com afinco e se reuniram para decidir quem iria criar o que. Quem tem pasto ficou com as criações e quem não tem ficou com as galinhas.

A força das mulheres do Tombador foi descoberta também na realização dos mutirões agroecológicos. Em um deles se registrou a participação de apenas 1 homem enquanto que as outras 11 participantes eram mulheres. Mas os homens não ficaram de fora do processo, foram eles que ficaram encarregados de retirar toda a madeira para a construção dos cercados e ajudar na montagem deles também.

Nos mutirões agroecológicos elas aprenderam a manter a saúde dos animais com a limpeza correta e periódica dos chiqueiros. Foi orientada as formas de como aproveitar o esterco que é retirado, preparando corretamente para a aplicação na plantação. Além da aplicação correta de medicamentos e castração dos animais. Nas galinhas foram explicadas formas de fabricação do cercado e alimentação adequada e o que também pode ser aproveitado para a alimentação delas.

Dona Iraci conta que vários remédios caseiros podem ser utilizados. “O álcool com angico, pau-ferro e ameixa para o umbigo e cicatrização de cortes. O remédio não serve só para os animais, uma pessoa que tiver um corte também pode usar sem problema”. Outro remédio usado é o Mastruz que elas colocam para secar, pisa e mistura no milho e no sal.

No caso dos ovinos, as famílias receberam 3 ovelhas para cada carneiro. A família dela conseguiu aumentar a produção para 25 cabeças e já venderam 7 cabeças. E as crias estão dando de 2, fazendo com que o rebanho aumente mais rápido.

Ela ensina algumas técnicas para criar os animais da melhor forma. Ela separa as ovelhas paridas dos demais animais para que não corra o risco dos outros matarem. “Às vezes algumas ovelhas não dão leite o suficiente para dar de mamar aos burregos, aí a gente dá leite de vaca com um pouco de água para não ficar muito forte”. Ela conta que o filhote criado com leite de gado fica mais formoso ainda.

A criação da família é abatida principalmente para consumo, mas quando é preciso comprar outras coisas eles vendem para ganhar o dinheiro necessário. O quilo é vendido a R$ 8,00 (oito reais), algumas criações dão um peso de 15 kg.

E tudo foi feito em espírito de solidariedade com as famílias. A cada dia, o grupo tirava madeira para a construção dos cercados de cada família. Sempre ajudando uns aos outros. Para conseguir um preço melhor para as telhas, o cimento e as telas dos galinheiros, todos e todas se juntaram para comprar tudo junto.

Dona Iraci conta que, por conta da estiagem desse ano, muita gente teve que vender parte da criação, mas ela foi persistente e acreditou que iria conseguir segurar seus animais por mais tempo. Mas o sentimento conjunto de que acreditando e com muito trabalho as coisas dão certo ainda existe na comunidade.

A devolução do fundo é feita de acordo com o lucro das famílias e condições climáticas, corrigido pelo salário mínimo. A esperança que as famílias consigam fazer com que essa atividade se consolide e ajude outras famílias também é algo bem forte na mente das mulheres do Tombador.

Por Mariana Gonçalves para o Boletim "O Candeeiro", informativo do Programa Uma terra e Duas Águas da ASA Brasil.

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